Domingo dia 19 de outubro de 2025, o Jornal Correio Popular de Campinas falou da importância do trabalho dos Policiais Penais .”DNA de cadeia”
Desde o início do ano, atrás das muralhas dos 180 presídios paulistas gerenciados pela Secretaria da Administração Penitenciária (SAP), existe um grupo de elite com “DNA de cadeia”. É A Polícia Penal do Estado de São Paulo, que tem como principais funções a segurança interna e externa, treinamento em técnicas de intervenção rápida e o poder de atuar “quando necessário, de maneira repressiva imediata, em caso de quebra de ordem nos estabelecimentos penais”.
É uma tropa de elite formada para o confronto direto com o Primeiro Comando da Capital (PCC), facção criminosa que atua na maioria das penitenciárias e fora delas, e também contra outros grupos organizados que possam estar infiltrados entre os 217,7 mil detentos, entre homens e mulheres, que cumprem pena no Estado. Para esse enfrentamento direto ao crime organizado existe dentro da Polícia Penal o Grupo de Intervenção Rápida (GIR), considerada “a elite da elite”.
Armados com espingardas, modelo cartucheira, de alto poder e com pistolas de calibre .40, os policiais penais ficam nas muralhas, nas torres e nas viaturas que promovem a escolta de detentos
para hospitais e para depoimento em fóruns ou delegacias de polícia. As viaturas também rondam as unidades prisionais do lado de fora. Dentro desses veículos são sempre quatro os integrantes da equipe, todos com coletes à prova de balas e armados.
O resultado do trabalho desses policiais especializados pode ser avaliado em estatísticas. No Complexo Penitenciário Campinas-Hortolândia, por exemplo, formado por seis unidades, onde estão recolhidos nove mil homens, a Polícia Penal impediu de janeiro a setembro deste ano a entrada de 106 celulares, apreendeu 18 quilos de drogas e derrubou e inutilizou no mês passado um drone supostamente operado pelo PCC. Durante todo o ano de 2024, quando a tropa de elite ainda estava sendo formada, o sistema de segurança de então interceptou a entrada de 156 aparelhos telefônicos e apreendeu 22 quilos de entorpecentes.
Os cães de faro são usados em revistas permanentes nas celas e nas encomendas trazidas por familiares ou entregues pelo serviço de correspondência. No mês passado, por exemplo, uma operação realizada nas unidades de regime semiaberto em Campinas, Hortolândia e nos municípios de Itirapina, Itapetininga, Sorocaba e Porto Feliz resultou na apreensão de 16 celulares, dez carregadores, 13 cabos USB, quatro fones de ouvido, três chips de telefonia móvel, 206 porções de maconha, pesando aproximadamente 1,2 quilo, 45 microtubos com cocaína, um papelote com haxixe e 40 comprimidos vasodilatadores.
As rondas são realizadas no entorno do Complexo Penal. “A constante atuação das equipes de ronda externa é fundamental para a segurança dos estabelecimentos penais. O patrulhamento regular no entorno dos estabelecimentos permite a rápida identificação de movimentações suspeitas e o combate às tentativas de introdução de ilícitos e gravações por meios tecnológicos, como drones”, informou a SAP.
A Polícia Penal está equiparada às polícias Militar (PM), Civil, Técnico-Cientifica e Federal (PF) e recebe treinamento com base nessas forças de segurança. É o mais recente órgão permanente de segurança pública do Estado, criado pela Lei Complementar nº 1.416/2024 (Lei Orgânica). Ela está subordinada à SAP. A formação dos profissionais é feita em uma escola de formação criada pela própria secretaria.
Os policiais penais que utilizam armas automáticas de calibre .40 também possuem o fuzil antidrone, equipamento que inutiliza o aparelho. Os policiais têm treinamentos que duram até seis meses. A lei garante aos integrantes dessa tropa de elite “planejar, coordenar, executar e participar de ações de busca e recaptura de fugitivos dos estabelecimentos”.
Esses homens e mulheres podem “atuar de maneira preventiva e repressiva para manutenção da ordem, da segurança e da disciplina dos estabelecimentos penais, prevenir a atuação do crime organizado, do tráfico de drogas e de quaisquer outros crimes que possam ser praticados no interior e no perímetro de segurança dos estabelecimentos penais”.
“Os policiais penais desempenham as funções de segurança interna e externa, escolta de custodiados e atuam em grupos especializados como inteligência, canil e intervenção rápida”, definiu a SAP.
A Secretaria da Administração Penitenciária informou que os agentes da nova polícia realizam também a reintegração social que promove educação, capacitação e oportunidades de emprego para quem cumpre pena e para quem já deixou as unidades, trabalho que é feito em parceria com a sociedade civil, com a Fundação “Prof. Dr. Manoel Pedro Pimentel” (Funap) e outras instituições.
O servidor penitenciário aposentado João Rinaldo Machado, que foi dirigente sindical e trabalho mais de dez anos no Complexo Campinas-Hortolândia, fez parte do grupo que elaborou o projeto de criação da Polícia Penal. “Eu creio que foi muito bom o surgimento dessa nova polícia.
Além do serviço ser promovido por pessoas da área e que entendem do assunto também foi uma valorização para o servidor”, comentou. “Ou seja, são profissio nais que já estão dentro dos presídios e conhecem todo o sistema.”
O atual presidente do Sindicato dos Policiais Penais do Estado de São Paulo (Sindpenal), Antônio Pereira Ramos, explicou que a lei que regulamenta a função surgiu de duas emendas constitucionais, de 2019 e 2022. “A Polícia Penal unificou os cargos de agente de segurança penitencia e de agente de escolta, eram duas carreiras distintas, um fazia a guarda de muralha e outro fazia o serviço de carcerária. Eles exerciam as atividades de polícia, mas, oficialmente, não eram.
Agora temos uma carreira única com atribuição de polícia.”
O Estado tem cerca de 25 mil policiais penais e já prepara para 2026 aumentar o efetivo com a contratação de 1.100 policiais penais. Foi publicado no Diário Oficial do Estado o edital do concurso público. As inscrições começam em 3 de novembro e terminam no dia 8 de dezembro de 2025.

